“Feito é melhor do que perfeito” – Ha! Diz o médio, o morno, o medíocre, o meio cheio, o comum. Em um mundo de MVPs, ser medíocre parece ser o esperado – ou será um produto?
Aristóteles discordava. Para ele, a vida que vale a pena é aquela que se vive na excelência, ou seja, na máxima instância da potencialidade da sua natureza. É evidente que a natureza não distribui de forma igual seus recursos e talentos, mas viver em excelência está relacionado ao melhor que você consegue fazer com os recursos que tem naquele momento.
Importante essa ressalva: naquele momento. Não operamos no ápice de nossa potência todos os dias. Mas é importante lembrar que, nessa visão aristotélica, areté, ou excelência como traduzimos, é um hábito a ser cultivado e nutrido.
No trabalho, às vezes prazos curtíssimos e mal planejados fazem valer a máxima no início deste post. É melhor estar feito. O famoso “tem que dar” que tanto ouvimos. Mas olha, sabemos que se o prazo é curto e a pressão para entrega é grande, o que sairá estará longe de ser excelente – por vezes nem bom é. Fico imaginando as consequências desse tipo de entrega para o consumidor final. Imagine uma ponte que não é excelente, uma vacina não excelente, um livro didático não excelente. Não que sejam ruins, apenas medíocres. Imagine o risco!
E quando produzimos algo que não é excelente, perdemos o sentimento de realização e reconhecimento. Se não é excelente, está distante demais do meu potencial, da minha natureza. Gosto de pensar que vivo uma vida em excelência – não só no trabalho, mas em geral – e, se o que eu faço com o meu trabalho está aquém disso, não consigo me reconhecer no que faço. Me distancio do trabalho e o objetifico, desumanizo. Deixa de ser minha obra e vira apenas serviço.
Agora, o real problema está no momento em que paramos de nos importar. Se produzir algo médio, medíocre, morno, comum, meio cheio vira a norma, a chance da vida amornar é alta. E, ironicamente, esse morno pode se exteriorizar em um queimar-se (burnout, como traduzido pelo google) por exemplo. A queima total do nosso areté.


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